segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Mais um dia no metrô.

          O olhar do cronista... Levantar a cabeça para fora de si, enxergar tudo e absolutamente tudo. Ter o poder de expressar em palavras coisas que nós não vimos.
          A minha vida toda andei de metrô, nunca foi difícil bisbilhotar a vida alheia nos vagões, enxergar o celular por cima do ombro de alguém, estar ao lado de uma conversa momentânea pelo telefone... Porém confesso que esse é um desafio para mim. Digo, colocar no papel as várias cenas e histórias que já presenciei.
           O casal de velhinhos que lutavam para manter-se de pé no inquieto vagão lotado, a mãe extremamente carinhosa e seus dois filhos...
           O pai sentado em uma das cadeiras bem ao fundo do vagão, era de manhã e parecia estar com sono assim como eu. Ele tinha pousada em seu colo uma mochila infantil estampada com a famosa figura do homem-aranha e, pendurado em seu ombro, quase babando, o filho. Vestia o uniforme de sua escola e segurava firmemente os óculos entre as mãos largadas em cima das pernas do pai. Pareciam ter, trinta e pouco e uns... Sete ano de idade. Os dois estavam há bastante tempo naquele dilema de dorme ou não dorme, cochila ou não chochila... Até que em uma das paradas do metrô o vagão deu um tranco, o garoto profundamente adormecido levantou a cabeça de súbito, como a minha Gata quando me ouve chegar no quarto, e olhou para fora com os olhos arregalados, balançou a cabeça e tentou forçar a vista fechando com força os já pequenos olhos... Claro, ele colocou os óculos sobre o nariz e orelhas e novamente olhou para fora, agora mais relaxado. Vi ele se aproximar da figura adulta ao lado, e pelo movimento disse algo como "Ei, estamos chegando". O pai abriu os olhos lentamente, bocejou e olhou firme para fora também. O trem começou a andar novamente e os dois levantaram... Na estação seguinte, saíram. 
             Não é uma cena muito rara,pelo menos para mim, porém de alguma forma... Me afeta, me afeta de forma boa, me passa a sensação de felicidade... Na verdade eu as vezes me vejo espelhada, perdi a conta de quantas vezes meu pai aguentou minha cabeça pesando em suas costas, quantas vezes ele aguentou minha mochila roxa florida pesando em seu colo. Lembranças especiais, cenas que provavelmente vou me lembrar a vida toda.
               Expressar em palavras coisas que não vimos... E ainda julgar ações, acontecimentos, cenas e frases, como especiais.


            

Um comentário:

  1. Bia,
    acho que talvez falte a essa crônica um tom mais narrativo, com algum conflito, alguma mudança entre o início e o fim, talvez mais detalhes concretos, aspectos muito particulares dessa cena ou mesmo das suas memórias. quanto mais particular, mais bonito fica.
    Em termos de linguagem? há bastante tempo, do verbo haver, sinônimo de faz muito tempo. Corrige lá!
    Bom trabalho,
    Luana

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